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Marina Silva, eleições presidenciais e responsabilidade ambiental

31/03/2010

Ontem, terça-feira 30, aconteceu uma palestra da Marina Silva, pré-candidata à presidência pelo PV e senadora da república, na Universidade Federal de Pernambuco. Detalhe: palestra para os estudantes de administração, ciências ambientais, agronomia, todos os curso que têm a ver com questões voltadas ao desenvolvimento sustentável. O tema do evento, este mesmo.

Na verdade foi um evento promovido pelos autores do blog Acerto de Contas, um deles é professor da UFPE. Eu cheguei lá com aquele pensamento “ela vai se lançar à presidência, vai ter de fazer um mini-comício”. Fui com a intenção de ouvir as propostas de campanha, obviamente. E a Marina Silva simplesmente, chegando com uma hora de atraso no auditório do CCSA (Centro de Ciências Sociais Aplicadas), pediu brevemente desculpas e começou um show de aula sobre questões ambientais.

Eu e você sabemos que o planeta está à beira de uma crise ambiental, que pode mudar toda a economia e política mundial, fazer migrar grandes massas, matar muita gente e isso tudo em consequência do aquecimento global, do efeito estufa… Sabemos? É, mas parece que saber disto e nada é a mesma coisa. A palestra de Marina fez um grupo de poucas centenas de estudantes saírem de lá naquela noite com uma questão muito importante a ser resolvida: precisamos salvar a vida no planeta. Porque do jeito que a coisa vai, a humanidade se brincar não sobrevive.

Falando sobre noções básicas de geografia, citando pesquisadores, autores de teses e livros, teorias e filosofias de vida, a palestrante nos passou em alguns minutos um panorama ambiental do planeta, e nos convenceu da urgência de resolver o problema. É interessante ver como uma mulher sem aquele ar de sofisticação e elegância, sem maquiagem ou indumentária fashionista conquista um público com tanto conhecimento e posicionamentos políticos bem justificados.

Fiquei pensando que ninguém ganha a eleição fazendo discurso ecológico. Embora seja uma questão primária e muito necessária, a realidade é multifocal. Existem as questões sociais (categorias profissionais, classes sociais, grupos minoritários ou hipossuficientes como os LGBT’s, indígenas, quilombolas, indigentes, favelados, carcerácios etc), e as questões de educação, saúde, mídia, urbanização, economia, relações internacionais e por aí vai. Quem diz que o presidente chega lá em cima e não faz nada o mandato inteiro é um grande ignorante. Governar um país exige muito conhecimento e jogo de cintura, é muita coisa de uma vez só – quase ninguém parece ter consciência disso.

Palestra terminada, os professores e o reitor da universidade tiveram a oportunidade de formular algumas perguntas à senadora, depois os alunos. É, os alunos. Porque a palestra foi para eles e eu estava lá de penetra por interesse político individual e do movimento social LGBT. Tentei levantar a mão para fazer a pergunta que eu tanto queria, mas o mediador (Pierre Lucena) não deu atenção nenhuma a mim. Eu não era aluno dele. Ok, por isso tudo bem.

Acabaram as perguntas, os alunos foram saindo do auditório e eu fui pulando por cima das cadeiras para chegar na mesa e falar com a senadora. Algumas pessoas foram cumprimentá-la, pedir autógrafo ou tirar foto como ela. Eu fui lá, morrendo de vergonha (se fosse pra falar na frente do auditório todo seria mais fácil) e disse: “Posso fazer uma pergunta rapidinho?” – fiz aquele gesto com os dedos como quem indica pouca quantidade. Quando ela respondeu afirmativamente com a cabeça, perguntei “Faço parte do movimento social LGBT, e queria saber se a senhora é a favor da criminalização da homofobia, união homoafetiva e aprovação de uma lei de identidade de gênero”.

Falei tanta coisa tão rápido que ela não entendeu direito. Repeti, mas só falando da criminalização da homofobia. Ela disse que não deveríamos discriminar ninguém. E eu perguntei: “Então a senhora é a favor das questões LGBT’s?”. Ela não respondeu, políticos funcionam assim.  Falou sobre não discriminar pessoas novamente – o que seria injusto. Eu me dei por satisfeito (interpretei que ela seria a favor das nossas questões LGBT’s) e ela disse “Tá bom, meu querido?” e fez um gesto para um abraço. Daí eu lhe dei um abraço (não ia perder a oportunidade, fiquei com uma admiração grande depois da palestra) e disse “Muito prazer e boa sorte na campanha”.

Fui pra casa morrendo de vontade de ter escutado mais sobre todas as propostas e idéias da pré-candidata que eu penso seriamente em votar. Fiquei muito consciente, porém, de que o Partido Verde e a Marina Silva não têm nenhuma relação com o movimento LGBT, mas que também não são contra nossa gente. Não nos deixa tranquilos, mas ja é um ponto positivo.